Monday, November 27, 2006

MORTE NAS LETRAS

São dezassete e quarenta e cinco. Hora dos Açores. Deu-me para reler o Mário Cesariny, semi-deus do surrealismo português, talvez abjeccionista? Liguei a Antena 2 para fazer ambiente. Coisa de pedante e que só pedantes percebem. Jorge Rodrigues, o responsável por um programa de música clássica da dita estação e não só, entrevista o Nobel Saramago ao mesmo tempo que difunde Beethoven, num Allegretto - Opus 135 em Fá maior. Disse isto ele, que de música clássica só sei ouvir e dançar... Não se riam, pois um dia quando fui visitar uma velha senhora lisboeta e ela teve vontade de dançar para matar saudades do seu tempo dancei com ela ao som de um compositor clássico. Como ela era já bastante idosa, julguei eu que se tratava de um último pedido. Acedi. O interessante deste quadro é que a senhora só tinha discos de música do tempo de Napoleão III. Escolhi Wagner. Pois era o que mais se aproximava de um corridinho algarvio... Dona Luiza morreu semanas depois. Wagner é muito mortífero. Daí que a esquerda dos ambientes e das amnistias internacionais não vá muito com a sua cara de nacionalista alemão. Quando Rodrigues pede a Saramago que lhe interprete um determinado andamento, julgava eu que ia ouvir alguma coisa discreta. Para meu espanto, o senhor Saramago parecia o Eduardo Prado Coelho no melhor dos seus derrames mentais. Pôs os pés pelas mãos e vomitou coisas disparatadas. Estou convencido que o Nobel que nos cabia por cota devia ser entregue a Lobo Antunes. Não que ele merecesse, mas é muito melhor do que o fóssil Saramago. Este quando fala estraga e contamina o ambiente que o rodeia com a incoerência do seu paupérrimo discurso. A culpa também não é dele mas sim de quem o promoveu literariamente proibindo o seu “Testamento Segundo Jesus Cristo” de ser apresentado na nossa Europa e que não é das suas obras a pior, diga-se. Trata-se do carrasco do pensamento livre Sousa Lara, antigo subsecretário de Cavaco. Da Cultura, imagine-se. Já que estamos a falar de gente culta leiamos o que disseram de Cesariny que a partir de agora ombreará (creio eu) com os nossos maiores no velho Panteão da Ajuda. Cavaco: “... um dos nomes cimeiros da cultura portuguesa no século XX”. Para se dizer isso é preciso tê-los (perante a direita reaccionária) ou ser um “diz isso que cai bem”. Cavaco não leu Cesariny, não teria coragem para ler a poesia de Mário Cesariny nem tão pouco a desfaçatez para comprar um livro dele em público. Eu não vou explicar. Leiam Cesariny! Outro vulto, porém mais baixo que Cavaco, que também se pronunciou sobre a morte de Cesariny foi Eduardo Prado Coelho. Desta vez identificado como ensaísta pela LUSA. Disse ele: “foi um grande nome da literatura portuguesa” para rematar com o raciocínio da praxe “ embora já há muito tivesse deixado de escrever a sua morte foi uma perda para a literatura”. Se ele deixou de escrever há muito, a perda deve ser sentida quando ele deixou de escrever. E sentida também para a família que o perdeu de vez. Ele deixou de escrever nesta democracia e não quando era perseguido e preso pelos esbirros de Salazar e Caetano. Ele, Cesariny, não teve o apoio que merecia dos democratas que tomaram conta da cultura em Portugal. Os homens “cultos” de hoje vão prestar homenagem a um homem das Letras Portuguesas, do Pensamento Livre, do pensamento que choca a moral burguesa, porque a comunicação social vai toda ela ouvir os sábios da terra e dar-lhes protagonismo, que é o que eles querem e sempre quiseram nem que seja à custa da morte de alguém para quem eles se estiveram a marimbar enquanto esteve entre eles.
manuelmbento.
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Friday, November 24, 2006

RAÇA E RANHO
No velho estilo queirosiano, Portugal não passava de uma sociedade fradesca e fidalga. O resto – dizem muitos – permissiva, invejosa, rural e de raleira dignidade. Não me parece muito difícil provar e petiscar destas “definições”. Este tipo de estrutura faz sempre vítimas. Nos últimos tempos, temos assistido à caça de pessoas que subiram na vida e que na altura própria são apanhados nas malhas dos media – que não passam de merdia como costumo dizer (e bem, creio eu). Comecemos por Carlos Cruz, Vale e Azevedo, Santana Lopes, e ultimamente por José Veiga. Todo o espectáculo que os merdia têm fornecido à malta vai no sentido de os enxovalhar até à medula. Todos eles oriundos da pequena burguesia (operários, funcionários e prestadores de serviços de pouca monta) venceram na vida por si e expuseram-se à saciedade da ralé e da populaça que gosta muito de sangue fresco. Os delitos de que são acusados, outros o foram também, mas tão depressa ocupam as primeiras páginas como tão depressa desaparecem. Gente fina! Carlos Cruz foi uma figura nacional. Até era conhecido pelo senhor televisão. Dava-se com chefes de Estado, ministros e com todos aqueles que se serviam dele para se alcandorarem a lugares que os designavam de figuras públicas. Estavam sempre à espreita de um convite seu para aparecerem nos seus programas de grandes audiências. Quando a justiça o reteve foi julgado na praça pública antes mesmo de ser julgado e condenado. Não teve direito à presunção de inocência tão ao jeito dos sistemas democráticos. Sem rede familiar de apoio foi abaixo com as investidas do jornalismo de quem foi um dos pilares deste país. Laços familiares de peso não os tem. Ligações a instituições secretas não se lhe conhecem. Com a velha e poderosa nobreza lisboeta não tem laços . Os casamentos que fez também não o fizeram introduzir-se em nenhum grande salão. Tinha dinheiro e poder. Ofendia quem? Todos aqueles que da sua igual proveniência o invejavam. Está frito! Tiraram-lhe tudo. A ralé não perdoa. Vale e Azevedo não pode ser comparado a Carlos Cruz, pois este tem história e pertence há muito à revolução que houve na televisão. Só que Vale e Azevedo subiu muito depressa. Só para se candidatar à presidência do Benfica gastou cem mil contos na campanha. Queria naturalmente conquistar a fama e o reconhecimento público coisa que não conseguira como advogado de sucesso que parece ter sido, já que da profissão de causídico ganhava qualquer coisa como um milhão de contos anualmente, mas isso não era o suficiente para o amandar para o estrelato. Já foi julgado e condenado. Porém, ainda o perseguem por delitos da mesma espécie ocasionados na época em que cometeu todos aqueles que o levaram à cadeia. Disse ele um dia que tinha apanhado com a perpétua. Não está muito longe disso. Se tivesse cometido um homicídio já estaria livre e bem livre de tanta maçada. Ao ter perdido a reeleição à presidência do Benfica ficou isolado. Sem família de peso e de raiz aristocrata onde pululam os intocáveis, a ralé nunca mais o deixou em paz. Ligações de peso também não as tinha. Era um novo rico. Penso que só a missa do sétimo dia o salvará do opróbrio a que o sujeitaram... Com Santana Lopes a coisa não será bem a mesma coisa visto que os únicos “crimes” de que é acusado são de outra ordem. Homem bonito, inteligente e bem falante, com sucesso na política e no mundo das fêmeas, orador profíquo, conhecedor dos “dossiers” da administração como ninguém (só no Partido Comunista se encontram políticos que os dominam tanto ou melhor do que ele) foi também ele vítima das medidas aplicáveis a quem se fez por si no difícil mundo do estrelato. Os merdia fizeram dele um palhaço, quando se sabe que não é assim. Não tendo família da alta onde se acoitar ficou de um dia para o outro só e escarnecido. Escreveu um livro como qualquer outro político o faria nas mesmas condições e foi o fim da picada. Ridicularizaram-no e vilependiaram-no como se ele tivesse cometido um crime lesa-pátria ao trocar as folhas de um discurso, ter dormido uma soneca à Mário Soares e ter aparecido de copo na mão ao lado de uma santanete à laia de Sá Carneiro que imponha a própria amante – uma tal Snu – em cerimónias oficiais. Sá Carneiro pertencia a uma poderosa família do Norte (como muitos...) e por isso mesmo tinha da ralé o mesmo desprezo que a Natália Correia tinha por todos os bufos. Ninguém estava à altura de invejar Sá Carneiro porque ele o que tinha herdou-o. A ralé só respeita os velhos senhores. Não vou explicar. Puxem pela cabeça se a tiverem ou façam apelo à “mimória”... Ao senhor José Veiga, ex-operário - que de um momento para o outro se fez estrela – aconteceu-lhe o mesmo. Está frito e embrulhado com qualquer pastel. Pouco conheço dele a não ser o que os merdia traduzem da sua realidade. É a vítima que está a servir de momento as “distracções” do regime que bem precisa de manobras de diversão para acabar de vez com as conquistas de Abril na área social. Gostava de ver a ralé dos merdia a perseguirem com a mesma azáfama os grandes da banca e seus lacaios como estão a fazê-lo ao senhor Veiga. É o fazes! A banca é que manda neles! Reafirmo: a banca é que manda neles! Nós sabemos dos dinheiros que circulam nos bancos provenientes de negócios escuros. Diz a polícia espanhola: droga e armas. Vão calar-se porque como lacaios obedientes pouco mais poderão fazer... Bem, mas esta coluna não é mais do que um simples raciocínio. Até ver, deixemos a justiça actuar... Como nota final, gostaria de concluir com alguns trejeitos de puro cinismo. Para se ser aceite pela ralé invejosa só podemos seguir à risca as orientações do velho mestre do disfarce: o bondoso Professor Doutor António de Oliveira Salazar. Confirmem com a jornalista Felícia Cabrita. A saber: ninguém viu o femeeiro Salazar de copo na mão ao lado de qualquer mulher (mas o sacrista comeu mais mulheres que o Cardeal Cerejeira); ninguém o via rir; quando retirava o lenço do bolso para se assoar, saía antes e sempre, em primeiro lugar, o terço de Nosso Senhor, um santinho do Padre Cruz e uma medalinha de Fátima; era ele que enfeitava o altar com que se entretinha enquanto o padre que lhe rezava a missa em casa não chegava - desde que atentaram à bomba contra a sua vida na Igreja dos Anjos nunca mais se sujeitou a ouvir o acto religioso junto ao povo que o adorava; no Inverno não gastava energia em aquecimentos porque sendo muito poupado usava um cobertor que ponha em cima dos joelhos antes de ir para a cama onde se julga fornicava com a Pátria que se dizia sua esposa; nunca viajava para o estrangeiro. Para ele, viajar era cá dentro; nunca dançava em público. Lambada só debaixo dos lençóis com a dona Maria sua suposta governanta que morreu virgem segundo os relatos dos médicos adstritos ao Estado Novo; as amantes que tinha eram chamadas suas afilhadas o que ninguém duvidava visto estarem sempre a cantar avé marias; teve amores de várias latitudes. A última estrangeira com quem manteve relações epistolográficas jurou sempre que Salazar era potente apesar de o ter na medida média o que caracteriza o geral dos meridionais... Como descendia de gente pobre e conhecendo a bondade do povinho, fingiu uma vida de austeridade e de pobreza o que só podia ser contrariado pelo fatos de bom corte e de muito boa fazenda inglesa que usava. Só foi visto sem gravata uma única vez aquando viajou num veleiro particular que atravessava o rio Tejo. É preciso saber lidar com este povo que Júlio Dinis tão bem retratou como sendo maldizente, invejoso, pagão e penitentemente hipócrita. Desta raça se fizeram a maior parte dos jornalistas portugueses. Não podem ver uma camisa lavada aos seus iguais. Só os senhores podem ser senhores. Se assim não for lá estarão eles para os destruir. Lacaios! Safa!
manuelmbento
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Sunday, November 12, 2006


CONGRESSO, BANCA LAVADA E DITOS
Os políticos já nos habituaram a dizer uma coisa hoje para amanhã fazerem e dizerem precisamente o contrário. Como este estratagema já se tornou um hábito, o “pessoal” aceita-o como fazendo parte do dia-a-dia da classe. Como os políticos são pessoas com moral, faz parte desta defender o dito pelo não dito, como se nunca o tivessem dito depois de o terem dito. Se acaso estes “raciocínios” são plágio, peço imensas desculpas aos lesados. É que, deu-me para (re)ler o “Ser e o Tempo” de uma grande encomenda filosófica que dá pelo nome de Martin Heidegger. Não consigo perceber nada do que ele diz (da primeira vez ainda foi pior). Ele só escreve para inteligentes. Daí eu nunca ter percebido o que é para ele o “Dasein”. Porém, ficou-me a baralhada dos conceitos a martelarem-me nos ouvidos. “Ôntico, Ontologia, pré-ontológico, etc.” Oh, como ele brinca com coisas, que segundo ele o homem deixou de passar cartão desde os tempos de Parménides, Aristóteles e tantos crânios que nos couberam como herança cultural. Apaixonei-me por Sócrates, personagem criada por Platão, não na perspectiva de um Agatão ou de um Alcibíades, mas pelo que ela me ensinou de insatisfação do que se propaga sem compreender o que as coisas são nelas mesmas. Claro que dirão os que lêem que estou outra vez a dormitar sobre o que resta de “O Banquete” numa tradução à Estado Novo de um Pinharada Gomes. Pois, Alevá!!! Quando nos dirigimos às urnas para votar, o que fazemos é meter numas caixas um papel onde nos pomos de acordo ou não com palavras previamente ditas que encerram promessas que de acordo com elas nos levarão se não a um orgasmo pelo menos a uma melhoria da nossa qualidade de vida. Sócrates, rodeado de ilustres companheiros, voltou a prometer uma série de benefícios que vão vir e que servirão para distribuir por todos. Foi muito aplaudido por toda a classe política, dita “novo socialismo”, uma espécie de privilegiados que ganham muito bem comparados com o resto da população portuguesa. Isto no que diz respeito aos que ainda têm emprego porque quanto aos desempregados não podemos fazer comparações, por enquanto. Alegre e Roseta, dois burgueses socialistas, não foram com os ditos do dito Sócrates, porque de ditos a rua está cheia deles não só em dísticos como também em ditos, muito ditos em voz alta. Em voz alta e com a lata dos que ditam ditos que uma vez questionados deixam de ser ditos em conta, esteve Jorge Coelho. Uma espécie de porta-voz de ditos que estiveram na boca dos que lutaram (há que tempos!) por uma justiça social e que se calaram tão depressa se instalaram na “burra do Estado”. Era esta a luta deles? Eu dito que sim! Mas, cuidado! O melhor da encenação dos ditos foi o que acompanhou o Congresso “Novo Socialismo”: as autoridades policiais e judiciárias investiram contra os banqueiros e contra a “Banca Lavada”. Trouxe, como não podia deixar de ser, um reforço de credibilidade aos ditos da “Reunião Magna”. Que rica estratégia! Veio mesmo a calhar. Afinal, os poderosos também vão contribuir para a dignificação do Portugal democrático. Já não era sem tempo. Só que de ditos está o país cheio. Quantos ditos darão para fazer um dito verdadeiro? Qual o sentido do dito, dito pelo dito Sócrates? Será que teremos de voltar a Parménides como tão confusamente diz Heidegger para criar cada vez mais espaço de sentido entre o dito real e o dito ontológico? Ou será pré-ontológico? Dito eu que junto ao dito vos transcreverei sem ser plágio o dito de Heidegger esse querido:
“Agora, porém, revelou-se que a analítica ontológica da presença em geral constitui a ontologia fundamental e que portanto, a presença se evidencia como o ente a ser, em princípio, previamente “interrogado” em seu ser.
Quando a interpretação do sentido do ser torna-se uma tarefa, a presença não é apenas o ente a ser interrogado primeiro. É, sobretudo, o ente que, desde sempre, “se” relaciona e comporta com o que se questiona nessa questão. (Está quase a terminar, leitores!) A questão do ser não é senão a radicalização de uma tendência ontológica essencial, própria da presença, a saber, da compreensão pré-ontológica de ser.” Uf! E dei sessenta euros para ficar na mesma. Burro, eu? Dito que sim!
In Martin Heidegger, Sein und Zeit, trad. Cavalcante Schuback, Ed. Universitária São Francisco, 2006.
manuelmbento
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Monday, November 06, 2006


OS GRANDES NEGÓCIOS DO ESTADO...

O Partido Socialista português apresentou até à eleição de Cavaco Silva três frentes. A primeira delas dizia respeito à Maçonaria, a segunda aos socialistas sociais e a terceira ao socialismo de carteira, central e de direita. Expliquemo-nos: ao circulo da Maçonaria tínhamos a “geri-lo” o dr. Mário Soares. Ao que correspondia o socialismo tradicional e social vivificava o dr. Manuel Alegre. Ao terceiro e último - e que tinha em vista um Portugal “moderno” e de direita (europeia, diga-se) - aqueles que sendo socialistas viam com bons olhos uma viragem à direita no campo de uma economia que não destruísse toda uma classe assente no bem estar até ali conquistado e oriundo das conquistas de Abril. Um Cavaco Silva calado que nem uma múmia e sem guerrear ninguém era a garantia que Sócrates precisava para dividir o PS. Nas barbas dos socialistas o agora primeiro-ministro oficializava Mário Soares para enfraquecer a sua candidatura. E logicamente o “seu grupo”. Indicou-o à plebe eleitoral como um carneiro para os ofícios à divindade. Deixou Mário Soares passear a sua provecta idade aliado a um discurso desasjustado no tempo. Indispondo-se com Manuel Alegre não só também o enfraquece como o desliga da máquina partidária. Só um analfabeto em política faria o que Sócrates fez: jogar com dois possíveis candidatos para ambos enfraquecer quando deles precisasse. Qualquer dos socialistas partiu para o combate eleitoral mancando. Nenhum dos dois, quer Soares quer Alegre, iria aceitar uma tal viragem à direita nos destinos do país sem fazer oposição se tivesse sido eleito. Qual dos dois, depois das medidas restritivas e penalizadoras ao povo – que é isto que está por detrás das medidas “zé-socráticas”, deixaria passar sem estar a fazer “Presidências Abertas” e a tentar conter a sanha economicista que a todos envolve? E Cavaco? Meus senhores, Cavaco mumia. Cavaco é hoje o inventor do verbo mumiar, apesar de ter sido eu a materializá-lo... Passe a imodéstia. Cavaco está concertado com Sócrates no abrir as portas à economia neo-salazarista. E, muito naturalmente, Sócrates está de conluio com Cavaco. Não vou explicar isto mais uma vez porque não tenho pachorra. Comparem as medidas económicas do “ideólogo” do Estado Novo e vejam se as identificam. Esta “explicação” que aqui debito não passaria de mais uma diatribe (das que às vezes vos pespego) se não apresentasse o resto do texto. Tanto Cavaco quanto Sócrates são pessoas de confiança do capital internacional. Verifique-se a total aceitação da avalanche globalizadora que se está a formalizar e de que Portugal é, hoje, um excelente aluno. Sabe-se que aderir ao modelo da globalização traz custos enormes. Moderniza-se o país à custa do aumento do desemprego e da falência das empresas tradicionais que deixam de ser apoiadas por uma política de sustentação. Não existe garantias para o resultado positivo na aplicação destas medidas. Sabe-se que na Irlanda e na Finlândia houve resultados. Mas, atenção, não somos irlandeses nem finlandeses... A globalização torna os Estados ricos mas empobrece drasticamente as populações. O Estado português foi-se aguentando como Estado de Direito. No tempo de Mário Soares primeiro-ministro até o subsídio de Natal foi congelado. Tivemos salários em atraso. Fome em Setúbal. A vida em democracia é isto mesmo. Há quase trinta anos, Mário Soares foi acordado de madrugada pelo seu ministro das Finanças que lhe dizia aflito que o país iria entrar em bancarrota... Se estivéssemos preparados para viver em democracia e se os responsáveis políticos fossem de facto democratas, não se dissolveriam maiorias parlamentares. Se isso acontece é porque existem interesses obscuros. Irei para eles na terceira e última parte deste texto. A direita, o capital e a Igreja Católica são organizações altamente estruturadas. Estão habilitadas a tomar o poder sempre que este se lhes escapa através de perturbações sociais. Vou só referir a Igreja muito brevemente para não tornar este texto anticlerical, o que não é o caso (por hoje). A Igreja nunca se deu bem com democracias populares porque perde o apoio dos poderes de um Estado empobrecido por intervir socialmente. Um Estado forte é a garantia de uma Igreja forte. Neste momento a Igreja Católica está colada a Sócrates. O Patriarca dos católicos já deu origem a um movimento de aceitação de algumas medidas deste governo, inclusivamente as que dizem respeito ao aborto... Já não é nada com ele. O que está em causa é a sua sobrevivência (dela Igreja) como grande empresa. Passemos à direita que deu origem à tentativa de destruir a democracia portuguesa. Quando Guterres no seu infantil método de cristianizar o país tornou o Estado uma espécie de Pai de Todos descapitalizando-o sem ter acautelado o outro prato da balança, entrou em cena um tal Durão Barroso, hoje, o agente seguro da globalização. Com este no poder durante dois anos e a dar continuidade à politica de Guterres (nada se alterou) ajudado pela extrema-direita, melhor dizendo a direita capitalista internacional, o Estado continuou a resvalar para bancarrota. Paulo Portas representante dessa direita e Bagão Félix ligado a grandes empresas multinacionias foram a face visível desta estratégia. Esta irá permitir a tomada do poder pela tal direita. Tornar o Estado português insolúvel? Como? Vejamos o que disse o ministro da Defesa Severiano Teixeira: “nem todo o património previsto na área da Defesa atingirá a verba necessária para garantir o fundo das compensações aos antigos combatentes...” São apenas 823 milhões de euros... Juntar a esta verba os três caríssimos “navios de guerra” que Portas comprou. A Segurança Social, pela boca do actual responsável está à beira da bancarrota. Tudo isto foi dito e repetido em público. Juntemos a esta desgraça o peso da máquina do Estado na Saúde, na Educação e no sector da Função Pública. As contas foram tornadas públicas para assustar e para fazer com que as nossas mentes se tornem dóceis e propensas a aceitar os “bons ares da mudança”. Quem quer dar cabo do regime democrático? Será a direita e seus agentes que já deram a cara? Serão aqueles que todos os dias vêem os seus postos de trabalho em causa, a suspensão na ascensão nas carreiras, os que se encontram na iminência de já não poderem utilizar dos benefícios da Saúde e da Educação que o Estado dispôs ao povo? Para já não falar na habitação social que já deu sinais de estar a acabar. Qual é a posição da “grande” Banca? Aquela mesma que se nega a pagar o que o executivo lhes “indica” e que com um descaramento mafioso apregoa levar o Estado a tribunal se este teimar querer receber o que lhe é devido (ao povo, claro)? Estarão os “grandes” administradores interessados a dar continuidade às conquistas de Abril? Algumas foram mesmo conquistas, meus senhores! Delapide-se o Estado e eles estarão de volta ávidos como sempre...
manuelmbento
jornalista
cp.2754
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