Sunday, November 12, 2006


CONGRESSO, BANCA LAVADA E DITOS
Os políticos já nos habituaram a dizer uma coisa hoje para amanhã fazerem e dizerem precisamente o contrário. Como este estratagema já se tornou um hábito, o “pessoal” aceita-o como fazendo parte do dia-a-dia da classe. Como os políticos são pessoas com moral, faz parte desta defender o dito pelo não dito, como se nunca o tivessem dito depois de o terem dito. Se acaso estes “raciocínios” são plágio, peço imensas desculpas aos lesados. É que, deu-me para (re)ler o “Ser e o Tempo” de uma grande encomenda filosófica que dá pelo nome de Martin Heidegger. Não consigo perceber nada do que ele diz (da primeira vez ainda foi pior). Ele só escreve para inteligentes. Daí eu nunca ter percebido o que é para ele o “Dasein”. Porém, ficou-me a baralhada dos conceitos a martelarem-me nos ouvidos. “Ôntico, Ontologia, pré-ontológico, etc.” Oh, como ele brinca com coisas, que segundo ele o homem deixou de passar cartão desde os tempos de Parménides, Aristóteles e tantos crânios que nos couberam como herança cultural. Apaixonei-me por Sócrates, personagem criada por Platão, não na perspectiva de um Agatão ou de um Alcibíades, mas pelo que ela me ensinou de insatisfação do que se propaga sem compreender o que as coisas são nelas mesmas. Claro que dirão os que lêem que estou outra vez a dormitar sobre o que resta de “O Banquete” numa tradução à Estado Novo de um Pinharada Gomes. Pois, Alevá!!! Quando nos dirigimos às urnas para votar, o que fazemos é meter numas caixas um papel onde nos pomos de acordo ou não com palavras previamente ditas que encerram promessas que de acordo com elas nos levarão se não a um orgasmo pelo menos a uma melhoria da nossa qualidade de vida. Sócrates, rodeado de ilustres companheiros, voltou a prometer uma série de benefícios que vão vir e que servirão para distribuir por todos. Foi muito aplaudido por toda a classe política, dita “novo socialismo”, uma espécie de privilegiados que ganham muito bem comparados com o resto da população portuguesa. Isto no que diz respeito aos que ainda têm emprego porque quanto aos desempregados não podemos fazer comparações, por enquanto. Alegre e Roseta, dois burgueses socialistas, não foram com os ditos do dito Sócrates, porque de ditos a rua está cheia deles não só em dísticos como também em ditos, muito ditos em voz alta. Em voz alta e com a lata dos que ditam ditos que uma vez questionados deixam de ser ditos em conta, esteve Jorge Coelho. Uma espécie de porta-voz de ditos que estiveram na boca dos que lutaram (há que tempos!) por uma justiça social e que se calaram tão depressa se instalaram na “burra do Estado”. Era esta a luta deles? Eu dito que sim! Mas, cuidado! O melhor da encenação dos ditos foi o que acompanhou o Congresso “Novo Socialismo”: as autoridades policiais e judiciárias investiram contra os banqueiros e contra a “Banca Lavada”. Trouxe, como não podia deixar de ser, um reforço de credibilidade aos ditos da “Reunião Magna”. Que rica estratégia! Veio mesmo a calhar. Afinal, os poderosos também vão contribuir para a dignificação do Portugal democrático. Já não era sem tempo. Só que de ditos está o país cheio. Quantos ditos darão para fazer um dito verdadeiro? Qual o sentido do dito, dito pelo dito Sócrates? Será que teremos de voltar a Parménides como tão confusamente diz Heidegger para criar cada vez mais espaço de sentido entre o dito real e o dito ontológico? Ou será pré-ontológico? Dito eu que junto ao dito vos transcreverei sem ser plágio o dito de Heidegger esse querido:
“Agora, porém, revelou-se que a analítica ontológica da presença em geral constitui a ontologia fundamental e que portanto, a presença se evidencia como o ente a ser, em princípio, previamente “interrogado” em seu ser.
Quando a interpretação do sentido do ser torna-se uma tarefa, a presença não é apenas o ente a ser interrogado primeiro. É, sobretudo, o ente que, desde sempre, “se” relaciona e comporta com o que se questiona nessa questão. (Está quase a terminar, leitores!) A questão do ser não é senão a radicalização de uma tendência ontológica essencial, própria da presença, a saber, da compreensão pré-ontológica de ser.” Uf! E dei sessenta euros para ficar na mesma. Burro, eu? Dito que sim!
In Martin Heidegger, Sein und Zeit, trad. Cavalcante Schuback, Ed. Universitária São Francisco, 2006.
manuelmbento
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