Friday, March 23, 2007



BARRIGA CHEIA BARRIGA VAZIA


O que aconteceria se o Governo Regional, perante os factos, percebesse que a aposta no Turismo estaria errada? Não acredito que fizesse autocrítica assim sem mais nem menos. Da maneira como nós somos (refiro-me aos micaelenses porque não tenho pachorra para me meter na vida dos outros ilhéus) isso pouco importaria. Pouco intelecto, barriga cheia, copos à noite e saltinhos nas salas de dança é um certificado que vai sendo dia após dia um símbolo da nossa realidade/qualidade. Estranha qualidade esta… Abandonados os campos, as cidades enchem-se de paisanos em busca de um serviço que lhes permita ser tabelado de consumidor. Uma classe média citadina reconfortada pela esmerada colocação das crias por cunha nos bons empregos. Uma classe política que se multiplica como os pães nas administrações. Bairros que surgem debaixo dos pés como as fumarolas das Furnas à espera do plano habitacional... dos Bancos & Cª. Um retrato um todo nada somítico da situação, mas indicador do que aí vem: balanço de um deve e haver. Um dia virão habitar as centenas e centenas de apartamentos vazios (por não podermos suportar o custo real da compra) gente de fora. Hão-de comprar a terra e as casas que foram dos nossos antepassados. Esta linguagem está desajustada do actual e desmiolado micaelense. Até parece a voz de um Índio a reclamar as suas terras… O tempo passa rápido… E se Portugal entrar em bancarrota (uma espécie de ditadura do capital) nós vamos ser arrastados para a miséria. Não temos outra solução. Contra ela o que poderemos contrapor? Uma lavoura penhorada? Fábricas de Açúcar e Tabaco a fingir? Leite e queijo que só a malta consome? Caíaques da doca? Turistas do pulo? Polivalentes? Clubes desportivos? Missas? Romarias e chouriço da Ribeira Grande? Exploração de energias renováveis? (Daqui a pouco comemorar-se-á os cinquentas anos de investimento e exploração da Sogeo e nem um fio para deixar passar o electromagnetismo que dizem ir colocar na casa dos basbaques o tão precioso produto muitíssimo mais barato.) Está na altura de os políticos começarem a mostrar como as coisas estão. Micaelense esfomeado não brinca em serviço. E para o travar será preciso um Estado policial. Já não há verbas para o manter. Marcelo Caetano não autorizou que São Miguel se transformasse numa pastagem para servir os apetites da Nestlé. Dizia ele que isso tornaria a nossa ilha dependente. O que é que nós somos hoje em dia senão totalmente dependentes? Nem sequer um par de cuecas fabricamos. Aos nossos tomates outras fazendas os aconchegam… Estamos mais dependentes do que nunca. O dinheiro não tem chegado como se esperava. A malta lá de cima está caladinha sobre a matéria... Estamos como os borrachos de bico escancarado à espera que papá regurgite o que apanhou no quintal do vizinho.
manuelmelobento

Sunday, March 18, 2007




RT - PAI

A manutenção da única estação televisiva dos Açores custa(va) milhão e tal de contos anuais à Região. Qualquer coisa como sete milhões de euros é quanto o Governo Central vai despender a partir de agora pela sua sucursal nos Açores. Está certo! Se a estação da Ernesto do Canto é pertença do Estado português, por que razão havia a Região de arcar com tamanha despesa? Os cofres da Autonomia ficam a ganhar e o dinheiro sempre serve para outras coisas… Existem programas regionais muito apreciados. O do Pedro Moura é o que traduz melhor e mais permanentemente o viver do ilhéu. Outros tornaram-se também picos de referência. Porém, são amostras de serviço público “limitados” pela esfera da política. César - que há muito faz da inteligência profissão – ao permitir tão grande interferência nos assuntos internos regionais inferiu dos factos actuais uma continuação bastante alongada de Sócrates no poder. Não iria correr riscos se sonhasse que os social-democratas alcançariam uma maioria nas próximas legislativas, daqui a dois anos. É um risco calculado! Trata-se de uma aparente bonificação. Isto é, sabendo-se da importância dos Açores (quem pode negá-lo que não esteja de má vontade) é conveniente preparar os caminhos do Senhor. Se tivéssemos canais de iniciativa açoriana o gesto era de grande solidariedade para connosco. Não é o caso! A televisão é um caso sério no modelar das consciências. E como as democracias levam à liberdade, convém empacotá-la e torná-la delimitada ao pensamento português. Se eu fosse português-centralista faria o mesmo. Mas, caso é, como sou português-descentralista não posso deixar passar tal atentado. É que para além de o ser coopto a ideia com a do nacionalismo açoriano. Quem pensa em termos de futuro não pode deixar de raciocinar assim. Os que contradizem a tese do nacionalismo açoriano com a sua característica idiossincrática caem no erro de se dizerem defensores da autonomia. É coisa para os sociólogos e psicólogos (independentes) analisarem as diferenças. Pode-se perguntar se a autonomia é só para leitura no papel ou se é para seguir os trâmites normais da descentralização. A distância é que mata a não lógica dos que querem impor por cá medidas integristas desajustadas aos tempos modernos. Não se pode governar à distância. Isto foi no século passado! Existe no sul da Península Ibérica um território administrado pelo Reino Unido que dá pelo nome de Gibraltar e que é habitado por espanhóis. Porque as regalias dadas aos habitantes desse rochedo pelos ingleses, os espanhóis (seus habitantes) votaram a favor do “opressor” não admitindo a hipótese de virem a ser governados por Espanha. É tudo uma questão de cacau. Acontece, porém, que não querem deixar de ser espanhóis. Dá para aprender alguma coisa com este caso. Esta falta de assunção da “ideologia” açoriana é uma tristeza de toda a grandeza geométrica. Portugal não pode transformar ilhéus em continentais nem continentais em ilhéus. Nem por feitiçaria. Fá-lo porque há sempre quem troque aspirações legítimas por uma serrilha. E esta toma o nome de Comenda. Comenda aqui, Grande Oficial com Palma acolá e eis que transformam os nossos neurónios em bosta de vaca. É pastar autonomistas do penacho, ilusão dos tempos actuais que são de eleição e democracia.
manuelmelobento


Friday, March 02, 2007


DA MORNAÇA TAMBÉM SE FAZ CRÍTICA

A nossa estação televisiva - RTP/VA - está começando a trilhar um novo caminho. Para melhor, digo eu. Esta melhoria que me parece estar a acontecer é visível num sector muito específico: a política dita e expressa pelos espectadores. O programa “Estação de Serviço” rompeu, de certo modo, com a tumba muda, surda e civilizada que caracterizou o vazio criado com a “dispensa de serviço” do “Língua Afiada”. Até hoje não percebi tal censura, uma vez que o seu nível de audiência era fora do usual. Só o factor político poderia ter sido a justificação para tal apagamento. Como só temos um canal oficial, justificava-se a presença de um outro programa concomitante onde uma ideologia, melhor dizendo, uma outra maneira de tratar a “Questão Açoriana”, sempre presente nas nossas vidas, com maior incidência nos últimos dois séculos, tivesse lugar. As vozes discordantes têm o direito de consumir o espaço comum. Não podem ser os “proprietários” do poder ou a “oposição oficializada” aqueles a quem só se deve dar crédito. Sabemos - e nunca é demais repeti-lo – que o comodismo assenta arraiais em interesses desajustados das reais necessidades dos povos e a verdadeira política desvia-se. Às tantas, o que o povo deseja ouvir está, não nas bocas dos eleitos, mas sim nos comentadores. Não temos de pensar da mesma maneira. Não temos de ter medo em expressar as nossas opiniões. Como o território é pequeno cria-se um estado do ridículo para envolver os recalcitrantes. As manifestações de repúdio dos açorianos têm lugar à volta da mesa do café e isso satisfaz os conspiradores da treta e às vezes do boato, uma espécie de medrosos para não dizer outra coisa. É preciso que a direcção da RTP/A, tão lesta a colocar no ar tanta coisa oca, se predisponha a permitir ao público pronunciar-se sobre ela própria. Sabe-se que é difícil mas seria um momento alto de autocrítica muito louvável em regimes democráticos. Daí, adviria melhoria nos conteúdos futuros do seu trabalho. É muito aborrecido ouvir-se dizer por aí que tal e tal programa – apesar de irritante – sempre levava a sintonizar a estação oficial. Imagine-se o que não seria se os responsáveis das estações de televisão portuguesas da Europa resolvessem riscar programas que lhes traziam elevados índices de audiência… Veja-se o caso do Prof. Marcelo. Não ficou um segundo a pregar no deserto. Foi logo acoitado noutra estação. Aqui, por estas bandas, uma linguínha um todo nada mais afiada – porque não temos tantos desertos assim – só tem o horizonte marítimo como eco para se fazer ouvir. Nós não calamos a crítica nem a amordaçamos. Ela é assassinada pela mornaça cerebral e física. Caso é!
manuelmelobento