Monday, November 06, 2006


OS GRANDES NEGÓCIOS DO ESTADO...

O Partido Socialista português apresentou até à eleição de Cavaco Silva três frentes. A primeira delas dizia respeito à Maçonaria, a segunda aos socialistas sociais e a terceira ao socialismo de carteira, central e de direita. Expliquemo-nos: ao circulo da Maçonaria tínhamos a “geri-lo” o dr. Mário Soares. Ao que correspondia o socialismo tradicional e social vivificava o dr. Manuel Alegre. Ao terceiro e último - e que tinha em vista um Portugal “moderno” e de direita (europeia, diga-se) - aqueles que sendo socialistas viam com bons olhos uma viragem à direita no campo de uma economia que não destruísse toda uma classe assente no bem estar até ali conquistado e oriundo das conquistas de Abril. Um Cavaco Silva calado que nem uma múmia e sem guerrear ninguém era a garantia que Sócrates precisava para dividir o PS. Nas barbas dos socialistas o agora primeiro-ministro oficializava Mário Soares para enfraquecer a sua candidatura. E logicamente o “seu grupo”. Indicou-o à plebe eleitoral como um carneiro para os ofícios à divindade. Deixou Mário Soares passear a sua provecta idade aliado a um discurso desasjustado no tempo. Indispondo-se com Manuel Alegre não só também o enfraquece como o desliga da máquina partidária. Só um analfabeto em política faria o que Sócrates fez: jogar com dois possíveis candidatos para ambos enfraquecer quando deles precisasse. Qualquer dos socialistas partiu para o combate eleitoral mancando. Nenhum dos dois, quer Soares quer Alegre, iria aceitar uma tal viragem à direita nos destinos do país sem fazer oposição se tivesse sido eleito. Qual dos dois, depois das medidas restritivas e penalizadoras ao povo – que é isto que está por detrás das medidas “zé-socráticas”, deixaria passar sem estar a fazer “Presidências Abertas” e a tentar conter a sanha economicista que a todos envolve? E Cavaco? Meus senhores, Cavaco mumia. Cavaco é hoje o inventor do verbo mumiar, apesar de ter sido eu a materializá-lo... Passe a imodéstia. Cavaco está concertado com Sócrates no abrir as portas à economia neo-salazarista. E, muito naturalmente, Sócrates está de conluio com Cavaco. Não vou explicar isto mais uma vez porque não tenho pachorra. Comparem as medidas económicas do “ideólogo” do Estado Novo e vejam se as identificam. Esta “explicação” que aqui debito não passaria de mais uma diatribe (das que às vezes vos pespego) se não apresentasse o resto do texto. Tanto Cavaco quanto Sócrates são pessoas de confiança do capital internacional. Verifique-se a total aceitação da avalanche globalizadora que se está a formalizar e de que Portugal é, hoje, um excelente aluno. Sabe-se que aderir ao modelo da globalização traz custos enormes. Moderniza-se o país à custa do aumento do desemprego e da falência das empresas tradicionais que deixam de ser apoiadas por uma política de sustentação. Não existe garantias para o resultado positivo na aplicação destas medidas. Sabe-se que na Irlanda e na Finlândia houve resultados. Mas, atenção, não somos irlandeses nem finlandeses... A globalização torna os Estados ricos mas empobrece drasticamente as populações. O Estado português foi-se aguentando como Estado de Direito. No tempo de Mário Soares primeiro-ministro até o subsídio de Natal foi congelado. Tivemos salários em atraso. Fome em Setúbal. A vida em democracia é isto mesmo. Há quase trinta anos, Mário Soares foi acordado de madrugada pelo seu ministro das Finanças que lhe dizia aflito que o país iria entrar em bancarrota... Se estivéssemos preparados para viver em democracia e se os responsáveis políticos fossem de facto democratas, não se dissolveriam maiorias parlamentares. Se isso acontece é porque existem interesses obscuros. Irei para eles na terceira e última parte deste texto. A direita, o capital e a Igreja Católica são organizações altamente estruturadas. Estão habilitadas a tomar o poder sempre que este se lhes escapa através de perturbações sociais. Vou só referir a Igreja muito brevemente para não tornar este texto anticlerical, o que não é o caso (por hoje). A Igreja nunca se deu bem com democracias populares porque perde o apoio dos poderes de um Estado empobrecido por intervir socialmente. Um Estado forte é a garantia de uma Igreja forte. Neste momento a Igreja Católica está colada a Sócrates. O Patriarca dos católicos já deu origem a um movimento de aceitação de algumas medidas deste governo, inclusivamente as que dizem respeito ao aborto... Já não é nada com ele. O que está em causa é a sua sobrevivência (dela Igreja) como grande empresa. Passemos à direita que deu origem à tentativa de destruir a democracia portuguesa. Quando Guterres no seu infantil método de cristianizar o país tornou o Estado uma espécie de Pai de Todos descapitalizando-o sem ter acautelado o outro prato da balança, entrou em cena um tal Durão Barroso, hoje, o agente seguro da globalização. Com este no poder durante dois anos e a dar continuidade à politica de Guterres (nada se alterou) ajudado pela extrema-direita, melhor dizendo a direita capitalista internacional, o Estado continuou a resvalar para bancarrota. Paulo Portas representante dessa direita e Bagão Félix ligado a grandes empresas multinacionias foram a face visível desta estratégia. Esta irá permitir a tomada do poder pela tal direita. Tornar o Estado português insolúvel? Como? Vejamos o que disse o ministro da Defesa Severiano Teixeira: “nem todo o património previsto na área da Defesa atingirá a verba necessária para garantir o fundo das compensações aos antigos combatentes...” São apenas 823 milhões de euros... Juntar a esta verba os três caríssimos “navios de guerra” que Portas comprou. A Segurança Social, pela boca do actual responsável está à beira da bancarrota. Tudo isto foi dito e repetido em público. Juntemos a esta desgraça o peso da máquina do Estado na Saúde, na Educação e no sector da Função Pública. As contas foram tornadas públicas para assustar e para fazer com que as nossas mentes se tornem dóceis e propensas a aceitar os “bons ares da mudança”. Quem quer dar cabo do regime democrático? Será a direita e seus agentes que já deram a cara? Serão aqueles que todos os dias vêem os seus postos de trabalho em causa, a suspensão na ascensão nas carreiras, os que se encontram na iminência de já não poderem utilizar dos benefícios da Saúde e da Educação que o Estado dispôs ao povo? Para já não falar na habitação social que já deu sinais de estar a acabar. Qual é a posição da “grande” Banca? Aquela mesma que se nega a pagar o que o executivo lhes “indica” e que com um descaramento mafioso apregoa levar o Estado a tribunal se este teimar querer receber o que lhe é devido (ao povo, claro)? Estarão os “grandes” administradores interessados a dar continuidade às conquistas de Abril? Algumas foram mesmo conquistas, meus senhores! Delapide-se o Estado e eles estarão de volta ávidos como sempre...
manuelmbento
jornalista
cp.2754
 Posted by Picasa

0 Comments:

Post a Comment

<< Home