Thursday, June 07, 2007


INDEPENDÊNCIA: DUAS LEITURAS


Deram muitos parabéns à RTP/Açores pela sua novel abertura democrática, ao convidar para uma entrevista o Dr. José de Almeida, líder independentista açoriano. O líder da FLA (hoje ressuscitada, como por milagre, pelos antigos representantes dos inimigos daquela “organização” política) “prestou involuntariamente” um serviço a César por um lado e por outro cumpriu para com o povo dos Açores a tarefa que lhe cabe: informá-lo acerca do que é ser-se livre sem estar sujeito à capciosa centralização portuguesa. Se, antes, o mais poderoso meio de comunicação açoriano omitiu deliberadamente a difusão do pensar de muitos independentistas, hoje, veio dar uma de liberdade expressão. Até metia dó ver Carlos Tomé a querer redimir a estação da José do Canto dos maus tratos a que foram sujeitos no passado os mentores daquela forma de pensar. Democrática a RTP/Açores? Vou rir! Aquela estação televisiva era e é um comissariado político do centralismo português. Não há almoços grátis – repete muito o Prof. João César da Católica -, e tudo leva a querer estarmos perante uma arrancada à Carlos César. Já explico. Convém a César que nos Açores se viva em plena democracia. Que não se permita duvidar que se respira liberdade por cá. No passado, no reinado de Mota Amaral, como era? Ditadura dos Trinta Tiranos? Se calhar… Bem, o que César precisa é de uma onda de fundo bastante organizada que lhe peça de joelhos que “tetrarrecandidate-se”. Para isso necessita abarcar todo o tipo de eleitor. Colocar o Dr. José de Almeida a posicionar-se e a discernir sobre uns Açores independentes é querer estar a dizer: compare-se putativamente o hoje com o amanhã. Estamos tão bem assim!... Só que existe um pormenor de que se esqueceram: o Dr. José de Almeida sabe o que quer para os Açores e di-lo magistralmente. Tornar-se-ia perigoso para os situacionistas e colaboracionistas se ele tivesse de ir regularmente à RTP/Açores defender as ideias que professa e nas quais é certamente acompanhado por muitos. É que na falta de um pensamento legítimo na defesa integral dos nossos interesses, alguém nos interpreta como de imbecis se tratasse. Falam por nós, dispõem por nós, vendem o que é nosso sem nos darem conta (justificam-se com o todo nacional…), retiram-nos dos contratos que fazem em nosso nome, etc. Nós é que temos de explicar o que queremos em termos de autonomia e não imporem-nos uma autonomia externa. Esta serve uma certa elite e esquece os nossos desafios de futuro e de liberdade de opções próprias. É muito bonito ser-se português, mas isso não implica que do continente nos digam como nos havemos de governar. Há coisas que só a nós dizem respeito. É isso que é preciso dizer à Assembleia da República que se transformou numa réplica da Assembleia Nacional salazarista. Pelo menos no aspecto que diz respeito àqueles que são sempre os mesmos. Claro que Jaime Gama não é nenhum Albino dos Reis. E digo isto salientando o facto de Gama ser muito mais gordo que o dito antigo Presidente da Assembleia Nacional. É só isso. Perdão, Albino dos Reis esteve ao “serviço da Pátria” muito menos tempo do que o actual detentor do cargo. Há mais casos… A nossa emancipação está anestesiada. Façamos o que tem de ser feito antes de haver rupturas desastrosas. O 6 de Junho de 1975 foi uma pequena amostra desordenada. O próximo 6 de Junho não obedecerá ao mesmo modelo. O que vai ser chato. Os açorianos estão longe de terem a sensibilidade para reivindicar seja o que for. Porém, este espírito de alheamento não será eterno. É preciso ter isso em conta quando a coisa apertar. E ocupar os Açores em termos militares não vai cair tão bem quanto no passado. O próximo 6 de Junho será pacífico, mentalizado, com objectivos predeterminados e sobretudo mais organizado politicamente. Creio eu, na sua primeira fase, claro está! É que prender pessoas à toa como fizeram os ingleses aos irlandeses para meter medo já não vai pegar como dantes. Colocar o Dr. José de Almeida na RTP/Açores, pertença do Estado Português de “Direito”, a defender o melhor para os Açores - a independência - oferece todas as leituras, à excepção de entendermos a oferta da mesma como prémio por termos sido condenados ao isolamento e ao roubo do trabalho das nossas classes trabalhadoras que foram quem produziu para alimentar o estadão dos senhores de cá tanto quanto os de lá.
manuelmelobento

2 Comments:

Blogger Claudio Almeida said...

É uma leitura muito realista dos acontecimentos.
Mas o que mais me admira, e tendo em conta a minha juventude, é o facto de os Socialistas tomarem como sua bandeira as questões autonómicas.
E vendo, Carlos Tomé a apresentar o programa, sinto-me um pouco confuso. Porque muitos jovens pouco ou nada sabem do 6 de Junho, e ao verem o programa, e a postura do próprio Dr. José de Almeida a elogiar César, ficam com a impressão de que o actual presidente do Governo Regional –"Grande Autonomista".

4:24 PM  
Blogger João Pacheco de Melo said...

Boa.
Como eu gostava de ter escrito isso.

Em relação ao comentário que antecede este, e em sem querer trazer para aqui um concurso tipo; "qual foi o maior autonomista", ou pior ainda; "quem é mais autonomista do que quem", é talvez bom lembrar que, no último 6 de Junho, fez exactamente 10 anos que a data teve pela primeira vez relevante cobertura oficial na RTP.
E, já agora, em 1997 já tinham saído do Governo dos Açores aqueles que mais bebeficiaram do 6 de Junho de 1975.

Melito...
Não devias estar tanto tempo sem escrever.
Um abaço.

11:21 AM  

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