Friday, November 24, 2006

RAÇA E RANHO
No velho estilo queirosiano, Portugal não passava de uma sociedade fradesca e fidalga. O resto – dizem muitos – permissiva, invejosa, rural e de raleira dignidade. Não me parece muito difícil provar e petiscar destas “definições”. Este tipo de estrutura faz sempre vítimas. Nos últimos tempos, temos assistido à caça de pessoas que subiram na vida e que na altura própria são apanhados nas malhas dos media – que não passam de merdia como costumo dizer (e bem, creio eu). Comecemos por Carlos Cruz, Vale e Azevedo, Santana Lopes, e ultimamente por José Veiga. Todo o espectáculo que os merdia têm fornecido à malta vai no sentido de os enxovalhar até à medula. Todos eles oriundos da pequena burguesia (operários, funcionários e prestadores de serviços de pouca monta) venceram na vida por si e expuseram-se à saciedade da ralé e da populaça que gosta muito de sangue fresco. Os delitos de que são acusados, outros o foram também, mas tão depressa ocupam as primeiras páginas como tão depressa desaparecem. Gente fina! Carlos Cruz foi uma figura nacional. Até era conhecido pelo senhor televisão. Dava-se com chefes de Estado, ministros e com todos aqueles que se serviam dele para se alcandorarem a lugares que os designavam de figuras públicas. Estavam sempre à espreita de um convite seu para aparecerem nos seus programas de grandes audiências. Quando a justiça o reteve foi julgado na praça pública antes mesmo de ser julgado e condenado. Não teve direito à presunção de inocência tão ao jeito dos sistemas democráticos. Sem rede familiar de apoio foi abaixo com as investidas do jornalismo de quem foi um dos pilares deste país. Laços familiares de peso não os tem. Ligações a instituições secretas não se lhe conhecem. Com a velha e poderosa nobreza lisboeta não tem laços . Os casamentos que fez também não o fizeram introduzir-se em nenhum grande salão. Tinha dinheiro e poder. Ofendia quem? Todos aqueles que da sua igual proveniência o invejavam. Está frito! Tiraram-lhe tudo. A ralé não perdoa. Vale e Azevedo não pode ser comparado a Carlos Cruz, pois este tem história e pertence há muito à revolução que houve na televisão. Só que Vale e Azevedo subiu muito depressa. Só para se candidatar à presidência do Benfica gastou cem mil contos na campanha. Queria naturalmente conquistar a fama e o reconhecimento público coisa que não conseguira como advogado de sucesso que parece ter sido, já que da profissão de causídico ganhava qualquer coisa como um milhão de contos anualmente, mas isso não era o suficiente para o amandar para o estrelato. Já foi julgado e condenado. Porém, ainda o perseguem por delitos da mesma espécie ocasionados na época em que cometeu todos aqueles que o levaram à cadeia. Disse ele um dia que tinha apanhado com a perpétua. Não está muito longe disso. Se tivesse cometido um homicídio já estaria livre e bem livre de tanta maçada. Ao ter perdido a reeleição à presidência do Benfica ficou isolado. Sem família de peso e de raiz aristocrata onde pululam os intocáveis, a ralé nunca mais o deixou em paz. Ligações de peso também não as tinha. Era um novo rico. Penso que só a missa do sétimo dia o salvará do opróbrio a que o sujeitaram... Com Santana Lopes a coisa não será bem a mesma coisa visto que os únicos “crimes” de que é acusado são de outra ordem. Homem bonito, inteligente e bem falante, com sucesso na política e no mundo das fêmeas, orador profíquo, conhecedor dos “dossiers” da administração como ninguém (só no Partido Comunista se encontram políticos que os dominam tanto ou melhor do que ele) foi também ele vítima das medidas aplicáveis a quem se fez por si no difícil mundo do estrelato. Os merdia fizeram dele um palhaço, quando se sabe que não é assim. Não tendo família da alta onde se acoitar ficou de um dia para o outro só e escarnecido. Escreveu um livro como qualquer outro político o faria nas mesmas condições e foi o fim da picada. Ridicularizaram-no e vilependiaram-no como se ele tivesse cometido um crime lesa-pátria ao trocar as folhas de um discurso, ter dormido uma soneca à Mário Soares e ter aparecido de copo na mão ao lado de uma santanete à laia de Sá Carneiro que imponha a própria amante – uma tal Snu – em cerimónias oficiais. Sá Carneiro pertencia a uma poderosa família do Norte (como muitos...) e por isso mesmo tinha da ralé o mesmo desprezo que a Natália Correia tinha por todos os bufos. Ninguém estava à altura de invejar Sá Carneiro porque ele o que tinha herdou-o. A ralé só respeita os velhos senhores. Não vou explicar. Puxem pela cabeça se a tiverem ou façam apelo à “mimória”... Ao senhor José Veiga, ex-operário - que de um momento para o outro se fez estrela – aconteceu-lhe o mesmo. Está frito e embrulhado com qualquer pastel. Pouco conheço dele a não ser o que os merdia traduzem da sua realidade. É a vítima que está a servir de momento as “distracções” do regime que bem precisa de manobras de diversão para acabar de vez com as conquistas de Abril na área social. Gostava de ver a ralé dos merdia a perseguirem com a mesma azáfama os grandes da banca e seus lacaios como estão a fazê-lo ao senhor Veiga. É o fazes! A banca é que manda neles! Reafirmo: a banca é que manda neles! Nós sabemos dos dinheiros que circulam nos bancos provenientes de negócios escuros. Diz a polícia espanhola: droga e armas. Vão calar-se porque como lacaios obedientes pouco mais poderão fazer... Bem, mas esta coluna não é mais do que um simples raciocínio. Até ver, deixemos a justiça actuar... Como nota final, gostaria de concluir com alguns trejeitos de puro cinismo. Para se ser aceite pela ralé invejosa só podemos seguir à risca as orientações do velho mestre do disfarce: o bondoso Professor Doutor António de Oliveira Salazar. Confirmem com a jornalista Felícia Cabrita. A saber: ninguém viu o femeeiro Salazar de copo na mão ao lado de qualquer mulher (mas o sacrista comeu mais mulheres que o Cardeal Cerejeira); ninguém o via rir; quando retirava o lenço do bolso para se assoar, saía antes e sempre, em primeiro lugar, o terço de Nosso Senhor, um santinho do Padre Cruz e uma medalinha de Fátima; era ele que enfeitava o altar com que se entretinha enquanto o padre que lhe rezava a missa em casa não chegava - desde que atentaram à bomba contra a sua vida na Igreja dos Anjos nunca mais se sujeitou a ouvir o acto religioso junto ao povo que o adorava; no Inverno não gastava energia em aquecimentos porque sendo muito poupado usava um cobertor que ponha em cima dos joelhos antes de ir para a cama onde se julga fornicava com a Pátria que se dizia sua esposa; nunca viajava para o estrangeiro. Para ele, viajar era cá dentro; nunca dançava em público. Lambada só debaixo dos lençóis com a dona Maria sua suposta governanta que morreu virgem segundo os relatos dos médicos adstritos ao Estado Novo; as amantes que tinha eram chamadas suas afilhadas o que ninguém duvidava visto estarem sempre a cantar avé marias; teve amores de várias latitudes. A última estrangeira com quem manteve relações epistolográficas jurou sempre que Salazar era potente apesar de o ter na medida média o que caracteriza o geral dos meridionais... Como descendia de gente pobre e conhecendo a bondade do povinho, fingiu uma vida de austeridade e de pobreza o que só podia ser contrariado pelo fatos de bom corte e de muito boa fazenda inglesa que usava. Só foi visto sem gravata uma única vez aquando viajou num veleiro particular que atravessava o rio Tejo. É preciso saber lidar com este povo que Júlio Dinis tão bem retratou como sendo maldizente, invejoso, pagão e penitentemente hipócrita. Desta raça se fizeram a maior parte dos jornalistas portugueses. Não podem ver uma camisa lavada aos seus iguais. Só os senhores podem ser senhores. Se assim não for lá estarão eles para os destruir. Lacaios! Safa!
manuelmbento
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