Friday, March 02, 2007


DA MORNAÇA TAMBÉM SE FAZ CRÍTICA

A nossa estação televisiva - RTP/VA - está começando a trilhar um novo caminho. Para melhor, digo eu. Esta melhoria que me parece estar a acontecer é visível num sector muito específico: a política dita e expressa pelos espectadores. O programa “Estação de Serviço” rompeu, de certo modo, com a tumba muda, surda e civilizada que caracterizou o vazio criado com a “dispensa de serviço” do “Língua Afiada”. Até hoje não percebi tal censura, uma vez que o seu nível de audiência era fora do usual. Só o factor político poderia ter sido a justificação para tal apagamento. Como só temos um canal oficial, justificava-se a presença de um outro programa concomitante onde uma ideologia, melhor dizendo, uma outra maneira de tratar a “Questão Açoriana”, sempre presente nas nossas vidas, com maior incidência nos últimos dois séculos, tivesse lugar. As vozes discordantes têm o direito de consumir o espaço comum. Não podem ser os “proprietários” do poder ou a “oposição oficializada” aqueles a quem só se deve dar crédito. Sabemos - e nunca é demais repeti-lo – que o comodismo assenta arraiais em interesses desajustados das reais necessidades dos povos e a verdadeira política desvia-se. Às tantas, o que o povo deseja ouvir está, não nas bocas dos eleitos, mas sim nos comentadores. Não temos de pensar da mesma maneira. Não temos de ter medo em expressar as nossas opiniões. Como o território é pequeno cria-se um estado do ridículo para envolver os recalcitrantes. As manifestações de repúdio dos açorianos têm lugar à volta da mesa do café e isso satisfaz os conspiradores da treta e às vezes do boato, uma espécie de medrosos para não dizer outra coisa. É preciso que a direcção da RTP/A, tão lesta a colocar no ar tanta coisa oca, se predisponha a permitir ao público pronunciar-se sobre ela própria. Sabe-se que é difícil mas seria um momento alto de autocrítica muito louvável em regimes democráticos. Daí, adviria melhoria nos conteúdos futuros do seu trabalho. É muito aborrecido ouvir-se dizer por aí que tal e tal programa – apesar de irritante – sempre levava a sintonizar a estação oficial. Imagine-se o que não seria se os responsáveis das estações de televisão portuguesas da Europa resolvessem riscar programas que lhes traziam elevados índices de audiência… Veja-se o caso do Prof. Marcelo. Não ficou um segundo a pregar no deserto. Foi logo acoitado noutra estação. Aqui, por estas bandas, uma linguínha um todo nada mais afiada – porque não temos tantos desertos assim – só tem o horizonte marítimo como eco para se fazer ouvir. Nós não calamos a crítica nem a amordaçamos. Ela é assassinada pela mornaça cerebral e física. Caso é!
manuelmelobento

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