DEMOGRÉCIA ESTATAL
Cada vez tenho mais pena da comunicação social que se pratica em Portugal. A direcção de programas da RTP1 resolveu levar a tribunal um jornalista que se atreveu afirmar que os telejornais da estação pública recebiam directrizes do Governo português. Aquele não quis revelar as fontes da sua acusação. Seria péssimo se tal acontecesse. Nunca mais ninguém se atreveria a dizer fosse o que fosse e a que pretexto fosse. Ficaríamos como antigamente: só o que era válido era a informação oficial. Isto, apesar de toda a gente saber que se tratava de informação manipulada. Acostumados a viver no sistema da mentira e da prepotência de há muitos anos a esta parte, estes temas passam-nos ao largo. A maioria não quer saber de nada. Quem se mete em política mais cedo ou mais tarde paga a factura. Ou se tem as costas quentes e se é, neste país, um homem livre, ou não as tendo protegidas é-se perseguido e por consequência destruído. A política quer se pratique numa ditadura quer numa democracia traz sempre uma orientação: saber estar com o poder. Quem estiver de fora ou cala-se ou é perseguido. As perseguições são de todo o tipo, sobretudo as de cariz económico. Quando estas não surtem efeito há que servir-se de outros meios de coação que vão desde pressões policiais até à barra dos tribunais. Tudo serve para calar. A democracia portuguesa é ainda uma democracia estatal. De todas as que conheço, esta é a melhor. Já explico. Uma democracia liberal tem como senhores absolutos os representantes do capitalismo. São estes que condicionam a vida dos povos e as suas actividades. Os grandes comerciantes e os grandes industriais dominam o Estado. Elegem os seus representantes em tudo que é poder político e militar. São os donos da comunicação social, das artes, do cinema, do entretenimento e finalmente do pensamento. Não há nada a fazer contra este monstro enquanto a riqueza permitir que a pobreza sobreviva escravizada nas fábricas e nos serviços e se “dê” bem com a situação. Nestes regimes, os muito ricos permitem a existência de bolsas de intelectuais ditos e assumidos de esquerda. Uma autêntica fantochada, pois estes “seres superiores” são pagos pelos cheques dos... muito ricos. Tudo anestesiado. Tudo bem! Existem outros regimes ditos democráticos que duram muito pouco dado que forças externas os forçam a mudar de rumo. Vamos; então, à democracia estatal que é esta que nos diz mais respeito. Enquanto Portugal tiver a possibilidade de assumir a representação de uma extrema direita, uma direita, uma esquerda materialista, uma esquerda doméstica-centrista, uma extrema esquerda e outros do tipo: verde-amarelo, não haverá uma ditadura propriamente dita que escandalize a “intelectualidade indígena”... O director de programas da estação oficial que hoje ameaça um jornalista do regime, qual puta ofendida, amanhã, deverá ser perseguido e levado à barra... não escapando à regra: hoje meu amanhã teu, se não te importas. Regra que é só nossa, digo desta democracia estatal que ainda não é uma ditadura, embora, às vezes, lhe falte inteligência à vista... desarmada.
manuelmelobento
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