Tuesday, August 22, 2006


CONVERSAS DE VERÃO...

No tempo dos governadores civis, o Verão açoriano era uma verdadeira pasmaceira. As praias ainda não tinham sido descobertas pela plebe ordinária (há-a desordinária!!!) nem as viaturas estavam ao preço da batata da Holanda. Uma ou outra veraneante continental, com um maillot centímetros acima mais ousado era tema de conversa e de lucubrações dos machos virgens de tudo menos de sonhos. Depois vinha o almoço aqui e ali em casa dos amigos e quando os pais mais liberais permitiam voltava-se para a praia para aproveitar ainda o que restava do Sol que naquele tempo era muito companheiro das nuvens. Pelo menos assim parecia. Não falávamos de política, e se o fazíamos era coisa pela rama. Ninguém percebia do que se passava a não ser a desconfiança que tínhamos de um ou outro ser bufo e colaborador da polícia política. Lia-se pouco, mas mais do que hoje apesar de haver mais livrarias e traduções por tudo que é supermercado. À noite, íamos passear para a Avenida Marginal. Aos fins de semana tínhamos a dança no Solar da Graça o que permitia chegarmos mais tarde a casa. Por volta das duas horas da madrugada, esclareça-se. Chumbava-se muito nos exames e muitos como era o meu caso nem chegavam a fazê-los, pois alguns professores indicavam logo no começo do ano lectivo quem teria êxito nos estudos. Os professores, dos então liceus, eram uma espécie de membros da secreta dos bons costumes. Impecáveis socialmente eram os sofistas do regime. Regulavam-se pelos compêndios e dele nada mais eram do que porta-vozes anualmente repetitivos. O Mundo rolava, andava para a frente e eles ano após ano diziam sempre o mesmo com a mesma cara de carrascos eticamente aprovados pelos notáveis e beatas do regime. A juventude estava nas suas mãos. Só os grandes alunos conseguiam fugir ao seu crivo. Frequentavam as missas dominicais, confessavam-se periodicamente e eram considerados pessoas de bem. Nunca os conheci como boas pessoas. Com duas excepções que recordo de bom grado, o grosso dos professores não passava de uma reles matilha mais preocupada com a vida íntima das famílias dos seus alunos a quem chumbavam baseados não nas competências mas nos seus estratos sociais. Filhos e parentes dos professores liceais, por mais burros que fossem – havia-os na percentagem do costume - tinham sempre êxito nos estudos. Muitos desses burros esbarravam nos estudos superiores tornando-se depois em excelentes balconistas colocados à base das cunhas tão ao gosto dos progenitores quais chantagistas pedagogos. Os estudantes de fora da cidade eram umas das muitas vítimas preferenciais. Só os de excelência conseguiram singrar. O resto deles ficou para trás. Parecia que actuavam como professores despeitados. Eram uma espécie de revisores da Lista de Schindler.
PS: também havia professores no feminino. Pouca diferença faziam dos machos. Traziam para as aulas os traumas da alcova. Melhor dizendo, do que a alcova não lhes facultava.
mmb
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