Sunday, December 10, 2006


NACIONLIDADE PORTUGUESA OU LISTAGEM DE NECESSIDADES DA BURGUESIA (I)

Que mentalidade se construiu no início da “histórica” nacionalidade portuguesa? Isto é dito assim para utilizar os chavões tradicionais que servem para dar corpo formado a um conjunto de teorias geralmente desligadas do laboratório social. Quando os reis de Portugal procuraram atrair colonos para cobrirem as “extensas” terras desertificadas após um certo entendimento de recuo dos árabes a que se costuma designar de Reconquista Cristã, estariam a pensar caldear povos de diversas geografias, a fim de, com mezinhas à moda da Idade Média, criar uma nação? O povo português é muito mestiço de raças. A sua cor de pele está mais próxima dos magrebinos do que dos nórdicos. Era preciso cultivar os campos para que os senhores das armas, ao tempo, pudessem delas usufruir das riquezas da produção agrícola. À volta dessas terras as comunidades crescem e procriam. A recolha da riqueza produzida concentrava-se nos castelos e casas senhoriais através de lacaios que se armavam para melhor exercerem as tarefas de aprisionamento. Cria-se um espírito de pilhagem da parte dos senhores e de pilhados pela parte dos camponeses-colonos. Tanto para uns como para outros a base de entendimento e convivência são a sobrevivência e a defesa mútuas diferenciadas pelo plano de cada grupo. Este modelo, mais ou menos “modernizado” pela vicissitude da era da “industrialização” por um lado e pelas descobertas por outro, durou até ao 25 de Abril de 1974. O povo pagava “directamente” os impostos aos senhores, pois o Estado alheava-se de o fazer porque para isso era necessário aumentar a pesada e cara máquina burocrática sendo, por isso, a terra entregue aos terratenentes. Era o modelo de exploração mais cordato com a voracidade dos exploradores. O cadastro das terras dos senhores era coisa que se fazia não se fazendo. Aumentar os impostos à fonte de rendimento dos senhores podia originar um maior equilíbrio social. Isso era perigoso. Muito perigoso para a estabilidade económica da classe senhorial. Ao Estado cabia essencialmente tarefas imediatas na recolha de fundos. E estes diziam respeito às trocas comerciais com os territórios ultramarinos e em tudo que era transaccionado na importação de bens de consumo provindo da estranja, prática portuguesa muito rendosa com raízes em antanho. A nacionalidade e o fulgor heróico foram práticas e necessidades da nobreza e do clero sendo acompanhadas mais tarde nesse sentir a partir de Dom João I pela burguesia a quem o primeiro rei da segunda dinastia se havia comprometido e enfeudado comercialmente. As populações ficavam à margem desses interesses “patrióticos” a não ser na altura em que eram necessários para as pelejas pela posse da terra entre os senhores. Nestas circunstâncias não podiam fugir de gritar por São Jorge, deus da guerra da malta que por estas bandas havia substituído o velho Ares. Acabadas as acrobacias pela posse de mais terras a plebe ignara voltava para os campos, onde se entretinha a fornicar, a lavrar, a dormir e a produzir para os senhores. A própria língua latina dos colonizados é uma grande confusão. Dela sai o português que se espalha com distorções por uma área tão pequena. Passam a ser denominados dizeres para facilitar a coisa. Enquanto as populações são desunidas (só em tempo de guerra se entendem os do Norte com os do Sul) e sem uma linha de actuação, só os “proprietários” possuem ideologia de associação. Burgueses e senhores da terra são os verdadeiros nacionalistas. Eles sentem a nacionalidade da posse, única linguagem que compreendem e falam. O clero, ao contrário do instinto dos seus colegas de estatuto, é o que prepara as ideias. É o que transforma o apetite em regra de respeito sagrado. Mesmo para obedecer é preciso alguém para redigir as normas e pensá-las para não dar azo a que haja interpretações que venham a beneficiar a ralé. Esta tem de estar sempre, mas sempre, ao serviço do outro. Só nos períodos de fome e de epidemias é que a coisa ficava feia para o lado dos senhores. Mas passados esses períodos o mundo rural voltava a ficar isolado e submisso. Com a chegada dos judeus que traziam consigo uma cultura mais adequada ao progresso e a novos modelos de pensar, gerou-se alguma tempestade que veio despertar a pasmaceira que por cá se vivia. Durou pouco tempo. A fogueira terminou com qualquer perspectiva de evolução. A Igreja muito atenta, porque muito culta, dominava inteiramente a sabedoria e a ciência condicionando-as. Clero, nobreza e burguesia sempre estiveram do mesmo lado. Falam a mesma linguagem. A esta chamam nacionalismo e dele se autodenominam de mentores. Para o povo, nacionalismo é sobrevivência. O povo fala de sobrevivência, não fala de nacionalismo. Não fala porque não sabe. O Estado Novo é o triunfo moderado do apogeu moderno das ideias medievais. O seu cabeça de cartaz deu voz a essa mentalidade actualizando a metodologia do processo nacional. A Igreja invadiu as Universidades pelo lado das humanidades enquanto que os “cientistas” portugueses passaram a devotos de Fátima e dos milagres do padre Cruz. Quem pensasse sujeitava-se a ver o Sol aos quadradinhos. Bastava pensar fora do modelo pátrio criado por eles e para eles para se ser considerado traidor. Traidor a que valores? Aos valores da classe do poder como não podia deixar de ser! Nacionalismo e valores da burguesia são uma e a mesma coisa.
Continua
manuelmbento
Posted by Picasa

0 Comments:

Post a Comment

<< Home