Tuesday, June 20, 2006

AS VIRGENS DO MEU TEMPO


NO TEMPO EM QUE AS MULHERES ERAM VIRGENS

No tempo da minha juventude ai da mulher que tivesse perdido a virgindade. Estava condenada para todo o sempre pelos machos, pelo grupo social, pelo padre da paróquia, etc. Nem que o desfloramento tivesse tido lugar a andar de bicicleta, como aconteceu a algumas que conheci, isso não as tornava menos desgraçadas. Os rapazes tinham a preocupação de se informar sobre a qualidade do hímen das suas pretendidas. A regra de ouro era que a toda ela tinha de estar pura antes de casar. Além de puras, elas não podiam fumar, beber, conduzir automóvel. Tinham de ser caseiras, recatadas, prendadas na costura e na feitura de doces, etc. Tudo isto para que não perdessem casamento. Não havia empregos para mulheres como os há hoje. Para uma certa liberdade de movimentos no exterior permitia-se a algumas (segundo cotas fascistas) que fossem professoras primárias. Isto se pertencessem a uma classe média baixa com aspirações. As das classes baixas eram colocadas nas fábricas, na criadagem e pouco mais. Algumas ficavam em casa fechadas e muito bem acompanhadas. Tanto ricas como pobres davam-se ao respeito. Mulher sozinha na rua passava a ser suspeita. Porra, que rigor! O macho que se prezava não tocava na namorada (não o podia fazer com facilidade). Muitos deles só estavam autorizados a falar com elas à janela. Às vezes estavam elas num primeiro ou segundo andar e o paspalhões com o pescoço torcido a dar-lhes conversa. Acabada esta e excitados pela imaginação (muitos deles sabiam lá o que era uma vagina e como funcionava) lá se recolhiam a casa pensando no dia do casamento que era quando lhes podiam saltar para cima do pêlo com a licença diocesana da ordem. Os padres davam conselhos sobre o casamento mesmo sem saber como se batia uma punheta de aquecimento a elas(nos seminários não havia vaginas). Os pais e as mães também aconselhavam, mas era coisa pouca e leve. Não entravam em pormenores. Quem entrava em pormenores, mas depois do casamento, eram os párocos nos confessionários. Diziam eles às suas paroquianas que não deixassem os maridos copularem com elas pelas traseiras, nem fizessem (porcarias) sexo oral como aconselha a sabida doutora Marta Crawford na TVI (ex-Igreja de Roma) minha grande referência. Pois ela excita-me e muito quando entra em pormenores que eu com o andar do tempo vou esquecendo. Pobres mulheres. Depois de mantidas virgens à força da violência física por um lado e manobradas “intelectualmente” por outro, ei-las transformadas em poedeiras logo a seguir. Mas por que é que eu, hoje, em vez de escrever sobre política como faço quase sempre volto às vaginas e aos falos? É porque estou a ler livros sobre sociologia e esta disciplina diz que estuda os fenómenos humanos em várias situações e interacções. E, freudar, é um acto humano que às vezes toma formas económico-sociológicas. Mas antes de seguir o rumo desta conversa vou transcrever um extracto de uma crónica de uma mulher, a doutora Maria Filomena Mónica, que me surpreende sempre que escreve. Julgava eu que era ela uma snob-imbecilóide quando li dela “Bilhete de Identidade”. Precipitei-me na primeira análise. Fui estúpido. Peço desculpa. Acho que ela, hoje, pertence a um grupo de pessoas de excelência num país de excrescências. Em BI diz ela que “papou” Vasco Pulido Valente, entre outros. Achei aquilo horrível. Fui preconceituoso. Trata-se, nos dias de hoje, de uma questão banal. Ela enfrentou o touro pelos cornos e mandou-nos a nós os filhos-da-merda-do-preconceito lavar o cu depois de o utilizarmos. Coisa que muito poucos fazem. O Mundo mudou, o preconceito luta ingloriamente para subsistir. Toda a mulher de agora freuda quando quer e onde quer. Haja pau! O que me parece é que com esta permissividade toda já estão a faltar “homofálicus” (se esta palavra não existe será a minha coroa de glória ortográfica) à altura das necessidades. Ora bem: “Na década de 1960, contudo, o mundo foi virado de pernas para o ar. Não nego que o período trouxe benefícios, entre os quais, e à cabeça, a pílula anticoncepcional, mas o espírito do tempo reforçou a noção de que toda a autoridade era , por o ser, maléfica.”MFM, In Pública-18/6/06. Fui pelas aparências do discurso de MFM e regredi intelectualmente. Vou ter de me penitenciar. Percebo porque existem reaccionários. Não raciocinam sobre os dados da análise (decomposição) que exige a leitura sobreposta da racionalização. Porra! Não peço mais desculpa. Ora, as virgens do passado que vão à merda pois fizeram-me a vida negra. Suas virgens!!!
manuelmelobento
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