BATAS PRETAS
Os Açores são na primeira segunda-feira do mês de Junho um espectáculo de identidade, de festa, de folia, de comes e bebes, de sopas especiais. Esta festa prolonga-se por muitas semanas e caracteriza-se por incluir nela o culto a uma das entidades que a Igreja Católica admite ser um Deus: o Espírito Santo, que juntamente com o Deus Pai e o Deus Filho formam uma trindade muito ao gosto de sociedades e de juramentos secretos. No caso em questão o imbróglio filosófico passa para as massas populares em forma de milagre. Daí que não necessite de explicação aprofundada para os crânios da ignara populaça. Em todas as civilizações nota-se a propensão para festividades. Fomos bafejados pela sorte do nosso mentor festivaleiro ser a surpreendente Civilização Grega que não dispensava nem o teatro, nem dança, nem coros, nem coreutas, nem deuses , nem bebidas nem comidas, etc. Que componentes teríam as festas gregas? Tal como nós, elas distribuíam-se pelo aspectos profano e sagrado. O Deus Dioníso e as suas "admiradoras/bacantes" faziam uma perninha nas folias. O primeiro era dado mais ao gozo propriamente dito. As bacantes: gozadas Era deus porreiro para a festa. Era só alegria! O nosso povo (como todos os outros) sempre propenso à farra e sem precisar de orientadores espírito-pedagógicos organiza-se para a alegria sem grandes preparos. O que é preciso é que haja o de comer e sobre tudo o de beber e muito. Cada terra tem o seu santo folião. São Pedro, São João, Santo António, por exemplo, dão cara à farra, ao berro histérico, ao pulo, ao abraço, etc. Na cabeça do povo, passar de Dioniso, o das libidinosas loucuras, para o Santo António, não tem problema. Adaptar a paródia ao Espirito Santo tanto melhor. O povo das ilhas açorianas viu-se, de repente, a ajuntar-se aqui e ali para comer carne em forma de pão molhado. Solidário, às vezes, até gosta de dividir o que é seu com o semelhante. Alguns até contraem enormes dívidas para serem os reis da festa. É a loucura generalizada que de ano para ano se institucionaliza e aperfeiçoa. O símbolo é o bezerro. Espírito Santo sem este seria missa fúnebre. A morte do bezerro ultrapassou fronteiras e eis que a saudade se torna seu fan. O Espírito Santo se não desse paparoca transformava-se num templo sem fiéis à imagem daqueles que vemos pelas madrugadas onde duas ou três beatas fanáticas tomam lugar extasiando-se com as mãos pálidas e puras dos párocos. Nas festas em honra de Dioniso, lê-se em Rocha Pereira: "... os rapazes e as raparigas que saíam da infância usarem então uma coroa de flores."In "Est. de Hist. da Cultura Clássica. E a malta por cá?... Os gregos matavam touros. A malta mata bezerros. Os Gregos bebiam em honra do deus Dioniso. Nós também o fazemos mas dirigimo-nos ao Espírito Santo. Os Gregos adoravam o teatro. Os terceirenses (açor-portugueses) também. Tudo é Grego! Tudo é pagão? Sim! Porém, tão depressa os Batas Pretas se aperceberam que a festa em honra de Dioniso/Espírito Santo era algo de muito poderoso, ei-los quais sacerdotes helénicos a oficiar as libações aos novos deuses da voraz populaça. Pudera não! Os templos passaram a casas do Deus para orientação dos novos ritos e os adros à praça das farras. O paganismo tornou-se de um momento para o outro num acto de elevada postura idealista. Comer, beber e bater no peito eis a nova culinária, perdão a nova face do cristianismo popular abençoado por Deus e turibulado pelos sacristães de todas as paróquias deste reino de todas as crenças oficiais.
mmb
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