Monday, June 05, 2006

AUTONOMIA - UM CONCEITO PARA CONSUMO DE BANANAS?

Toda a gente, hoje em dia, é uma autoridade em conceitos. Porque troquei as cervejas pelos dicionários, tenho-os e muitos. Cada vez que os manuseio fico pior servido. Nenhum dos significados que adquiri, por consulta, servem para me elucidar. Hoje, ao ler os artigos de opinião, na imprensa regional, fiquei um pouco melhor esclarecido. Note-se, não totalmente. Como se pode ser autónomo sem ter identidade e sem ter nação própria? Caso esquisito. Porém, a língua portuguesa é pródiga para ajudar nas trapalhices políticas. Já o velho Botas transformara por palavras as colónias em províncias. Só faltou chamar-lhes províncias autónomas. Que gozo! Ninguém é autónomo de si mesmo. É-se autónomo de alguém. Os Açores serão autónomos da Europa, dos Estados Unidos? Não! São-no de Portugal! E Portugal é autónomo dos Açores? Claro que não! Portugal, quando muito, é-o de Castela. Portugal torna-se autónomo (livre) de Castela e os Açores? Tornam-se autónomos de Portugal, porém, não livres. Confusão. Logo, na língua do Cardeal Dom Henrique restaurada, a liberdade nada tem a ver com autonomia. Nesta língua, autonomia vale metade de liberdade. Autónomos mas não livres. A primeira vez que percebi o que era Portugal na Península Ibérica foi preciso ter lido Sartre. Dizia ele em "Biografia e Autobiografia" que a Espanha era constituída por cinco nações. E não fazia por menos. Cada região autónoma espanhola era uma nação. E Portugal? Também! Mas era independente! Os Vascos além de serem nação queriam a independência. Se o conseguissem a PI teria dois países independentes e quatro nações. Óptimo. Porém, confuso em termos de conceito. Retirando desta alforrecada (obrigado JPG) "psicolinguagista" ficámos com um rico conceito triangular por um lado: independência mais autonomia mais nação. Por outro o conceito biangular: nação e autonomia. E nós? Só autonomia! Mas o que é autonomia de Portugal em relação aos Açores? Uma banana sem casca? Não, nada disso! Portugal concede autonomia aos povos insulares e a medo não sabe (ou não quer dizer) o que é isso de identidade. Portugal é-a no geral. Pois é um Estado Unitário. A nós cabe-nos uma subidentidade. Uma espécie de subgrupo. Ainda bem que temos uma cor de pele tão "clara" quanto à dos continentais meridionais. Conceito "parece" ser uma ideia geral. Porém, para nós não o é. E tudo isto devido a duas culturas com linguajares diferentes. Às vezes é preciso tradutor tal é a "desidentidade". A autonomia não é nada sem identidade e sem nação. Estas características estão nos dicionários e nas enciclopédias. No papel é uma coisa no terreno das aspirações outra. E, enquanto as três não se conjugarem materialmente, só são nomes a que nada correspodem. Triangulares, biangulares e uniangulares é quase a Santíssima Trindade. Não percebemos o que é. Mas com uma enorme fezada lá chegaremos.
mmb
Nota: A foto representa um polícia do tempo do Estado Novo. In "Flama" 1971 Um verdadeiro agente autónomo a tomar conta de um povo adormecido.
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