Sunday, September 24, 2006


PIO PIO PIO

Quando me ponho a pensar o que foi o eanismo em Portugal passo-me. Eanes foi um dos Presidentes da República eleito democraticamente em condições de difícil adaptabilidade dos portugueses à democracia. Antes de Eanes e logo a seguir ao golpe militar de 25 de Abril de 1974, foram sucessivamente escolhidos dois militares para a chefia da nação. Eles foram o generais Spínola e Costa Gomes. O primeiro conseguiu fazer passar a ideia de que tinha escrito um livro. Logo, tratava-se de um pensador. Nada mais falso. Quem escreveu “Portugal e o Futuro” fora um jornalista. Spínola e Costa Gomes eram dois basbaques intelectualmente falando. Em quarenta e oito anos, Salazar tinha conseguido fazer com que os portugueses deixassem de pensar (o que não era muito difícil). Quem tinha essa possibilidade estava no estrangeiro. No país só podíamos ler o Joaquim Paço de Arcos, a Crónica Feminina, as legendas dos santinhos que explicavam os diversos milagres de Fárima e os livros de História de Portugal feitos à imagem da Odisseia. A PIDE quando sabia que alguém tinha em casa livros esquisitos ia lá buscá-los para a sua colecção privada. Com o derrube da censura e a entrada dos livros proibidos a malta começou a abrir os olhos para as ideologias. Foram poucos que se cultivaram, mas foram alguns. Eanes que era um militar não tinha cultura. No entanto, o período revolucionário permitiu que fosse escolhido mais pela postura física e pelo modo como falava grosso. Não possuía ideias, mas mesmo assim conseguiu criar uma corrente desconhecida delas. Portugal sempre foi um país de milagres. Portanto nada de nos admirarmos. A seguir a Eanes, Mário Soares foi eleito Presidente da República. Escritor, humanista, homem de cultura política, histórica e económica preparou o país para a única saída possível: a Europa Comunitária. O período em que chefiou a nação portuguesa e as regiões autónomas caracterizou-se por um enriquecimento de ideias. Mário Soares é um democrata nato. Com ele pôde-se discutir todo o tipo de ideia. Ajudou a criar o espírito de plena liberdade nas consciências tacanhas e persecutórias. Como Presidente da República obrigou o Executivo a permanente actividade não o deixando tornar-se autocrático apesar de ter um suporte maioritário na Assembleia da República. Acabado o seu consulado, foi eleito um tal Jorge Sampaio. Cheio de fama. Com ela entrou em Belém e com ela saiu. Passou os dois mandatos a anestesiar tudo à sua volta. Vai ficar conhecido na História como aquele que derrubou o governo maioritário de Santana Lopes, dando origem a um governo socialista embalsamado o mais à direita possível após o quase desconhecido “25 de Abril”. De intelectual tinha a fama. Tinha! Esperemos pelas suas memórias para vermos se se vislumbra algum interesse nessa área (do intelecto, claro!). Finalmente, após a saída do socialista Sampaio, foi eleito Cavaco. Um homem da economia. Já escreveu livros. Mas a sua maior influência intelectual advém das suas crónicas económicas. Chegou a prever a vinda de um monstro que afinal lhe caíu no colo. Difere de Eanes pelo lado do miolo. A postura física é rígida e transmite uma certa segurança. Cavaco é um economista de respeito. Criou o cavaquismo e Portugal por pouco não se designava cavaquistão. Neste momento deixa governar Sócrates, o primeiro-ministro que está tentando informatizar Portugal. E à medida que as novas tecnologias vão descobrindo o Portugal profundo, o povo vai percebendo que tinha milhares de escolas, dezenas de hospitais, centenas de médicos, milhares de professores, milhares de funcionários públicos que não serviam os interesses de ninguém. E agora? Nada mais simples. Enquanto o povo vai percebendo que afinal a moral, os bons costumes e o apertar do cinto só a ele diz respeito os seus representantes estão a preparar-se para a alternativa. E esta é simples. Chegaram à conclusão de que o milho não só alimenta os pombos das praças. E vai daí pio, pio, pio...
manuelmelobento
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